domingo, 15 de julho de 2012

Os campeões mundiais do otimismo

DEBATE ABERTO

Numa pesquisa promovida entre março e abril pelo Pew Research Center, uma instituição de pesquisa com sede em Washington, os brasileiros ficaram com a medalha de ouro em matéria de otimismo: 84% responderam que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses.
Flávio Aguiar
É, deu Brasil. Ou melhor, os brasileiros.

Numa pesquisa promovida entre março e abril pelo Pew Research Center, uma instituição de pesquisa com sede em Washington, os brasileiros ficaram com a medalha de ouro em matéria de otimismo: 84% responderam que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses. A medalha de prata ficou com os chineses: 83%. E o bronze foi para a Tunísia: 75%.

Em quarto lugar, distantes, vieram os norte-americanos: 52%. E a lanterna, confirmando a tragédia, ficou com os gregos: 9%, contra 81% que responderam que ela vai piorar, e 10% que responderam que ela não vai mudar – que também é um sinal de pessimismo, já que apenas 2% deles responderam que a situação econômica do país era “boa”.

A Alemanha, para variar, ficou com o fiel da balança: 29% acham que a economia vai melhorar, 27 % que vai piorar e 43 % acham que tudo vai ficar como está.

Complementando: 12% dos brasileiros acham que tudo vai ficar igual, e apenas 5% responderam que situação vai piorar.

Em tempo: o Pewe Research Center é um “think tank” norte-americano dirigido por conhecido especialista em pesquisas, Andrew Kohut, e co-dirigido pela ex-secretária de Estado do governo Clinton, Madeleine Allbright, e pelo ex-senador republicano John Danforth, da ala mais liberal do seu partido e crítico da ala mais conservadora. A pesquisa pode ser consultada no site
www.pewglobal.org.

Ela abrangeu 21 países, do Brasil ao México, dos Estados Unidos à Rússia, da China ao Japão, e ouviu 26 mil pessoas.

Um dado que arrepiou os cabelos de muita gente é que a confiança no sistema capitalista decresceu. Em apenas 11 dos 21 países a maioria respondeu que considera uma economia de mercado conduz a um estado de bem estar geral. Houve uma queda generalizada nessa expectativa em relação a 2007, ano anterior ao redemoinho financeiro que começou em 2008. Em alguns casos essa queda foi dramática, como na Itália, 73% (2007) contra 50% (2012) e na Espanha, respectivamente 67% e 47%.

Neste quesito, as nossas esquerdas também têm no que pensar: novamente, o Brasil ganhou o ouro, pois 75% confiam na economia de mercado. E na lanterna – pasmem – ficou o Japão: 38%., menos 11% do que em 2007 (dado relativo ao Brasil não disponível).

Apenas 4 países registraram uma maioria de consultados contentes com a situação econômica: China, 83%, Alemanha, 73%, Brasil, 65% e Turquia, 57%.

Mas outros quesitos levantam novamente a “supremacia” brasileira. 75% acham que estão numa situação econômica satisfatória, contra 74% dos alemães, 69% dos chineses e 60% dos turcos. Esse índice ainda é relativamente alto nos Estados Unidos (68%), Índia e Grã-Bretanha (64%). Novamente, a tragédia cai para os gregos: 17%.

Outro ouro brasileiro: 72% pensam que estão em melhor situação do que há cinco anos, contra 70% dos chineses e 50 % dos indianos. Em todos os outros países a percepção da melhora nos últimos cinco anos é minoritária.

Novamente, o fiel da balança fica com os alemães: 23% acham que melhoraram, 48% acham que estão na mesma e 28% pensam que pioraram de situação econômica.

No quesito “Padrão de vida comparado ao da geração anterior”, o Brasil ficou com a prata: 81%. O ouro ficou com os chineses, 92% e – surpresa – o bronze foi espanhol: 71%. As piores situações estão no mundo árabe: Líbano, 21%, Jordânia, 31% e Egito, 34%.

Um dado interessante, também para a reflexão: a satisfação com a administração do governo caiu no Brasil: em 2010 era de 50%, em 2011, 52% e em 2012, 43%. E para aqueles que respondiam que a sua situação econômica piorara (12% no caso brasileiro), a pesquisa perguntou a quem se deveria responsabilizar por isso: 86% incluíram o governo; 29% os bancos e outras instituições financeiras, e 58 % também se incluíram entre os responsáveis pela piora. A pior desconfiança com o sistema financeiro ficou com a Espanha (78%), França e Alemanha (74%). Na Grã-Bretanha, 69%.

Um dado colateral: trabalhar duro é garantia de sucesso? Medalha de equilíbrio novamente com a Alemanha, pois 51 % dizem que sim e 48% dizem que não. Medalha de desequilíbrio interno também com a Alemanha (números não disponíveis): segundo o instituto a maioria dos que respondem positivamente estão na antiga Alemanha Ocidental; a maioria das respostas negativas vêm do antigo lado oriental. No Brasil o placar é de 69 sim contra 30 não. E os campeões são o Paquistão, 81%, os Estados Unidos, 77%, e a Tunísia, 73%. A China ficou com um modesto 45% sim e 33% não, enquanto a Índia obteve um robusto 67% a 27%. Campeões de descrédito: o Líbano, 64%, o Japão (!), 59% e a França, 54%. Percentuais altos de descrédito ocorrem por toda a Europa.

Feitas as contas e as médias gerais, os países que melhor se destacam nos índices positivos são: 1) Brasil, 2) China, 3) Índia e 4) Turquia. Dentre os BRIC (A África do Sul não fez parte da pesquisa) a situação russa é a mais oscilante e confusa, com altos e baixos distribuídos porm todos os quesitos. Situações melancólicas e dramáticas no sentido negativo aparecem com freqüência na Europa e nos países árabes pesquisados (Egito, Jordânia e Líbano), com exceção da Tunísia.

Acho que a direita brasileira não vai gostar desse resultado, e vai pedir ao Ministério Público que investigue o Pew Research Center.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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